~ Educação: Uma Máquina do Tempo ~

por Mosath, Membro da APS 


 "Encarar, sob relatos de mim, eu próprio"                                                                                                                                                               

A Educação é um dos direitos básicos do Homem. Um dos básicos, um dos essenciais. Com ele, o Homem evolui, dinamiza as coisas em seu redor e torna possíveis alterações em si e no mundo. Exercita as capacidades, aprende, molda, constrói. Aprende a formatar o seu próprio ser, a sua noção de realidade e por conseguinte aquilo que lhe é mais importante. A Educação é uma ferramenta poderosa, sem dúvida!

Não é por acaso que o tema Educação foi escolhido para figurar nesta Infernus. A temática é basilar, premente e possui uma carga de poder que não se pode ignorar. É uma das roldanas que de mais potente temos e por isso o Satanismo se interessa, por isso nós nos interessamos: exercitar a Educação para subir mais na vida.

O presente texto não é mais do que um testemunho pessoal de uma experiência num sistema educativo que designadamente é a escola: a minha experiência.

Tratando-se de um retrocesso, tratando-se de uma viagem numa máquina do tempo, tratando-se de uma visita à Educação maioritariamente escolar, tratando-se de umas páginas do diário pessoal, tratando-se de umas frases construídas sob o funcionamento das coisas, funcionamento dissemelhante do actual.

Aqui coloco a minha própria visão da experiência como estudante que fui. Um modo de vida que gosto de ver como a par do meu presente, mesmo que quase sem cor, pois julgo nunca deixamos de ser estudantes, haja ou não uma entidade escolar por trás, mantemos sempre a postura de assimilar, aprender, pesquisar, ao longo da vida. Ser eficaz, usar os dados, lançar setas. Valores que a Educação me ensinou.

Aqui: o melhor, o pior, as perspectivas, que se alteraram…

Sendo o propósito deste artigo o de recordar a minha experiência educativa escolar, nada mais lógico do que entrar na máquina do tempo para fazer paragem no início. O antes e durante a escola primária. Logicamente e por ter que ser.

Não deixa de ser (ainda assim) relativamente esquisito estar a escrever então sobre a minha infância. Parece-me quase ao jeito biográfico ou pós-morte, compreendendo que nunca seria eu a criar o segundo caso.

Adiante.

Geralmente, ao longo de tempos e acredito que no presente dia, as crianças são enviadas para infantários/creches e outros locais onde desenvolvem as primeiras capacidades intelectuais, comportamentais, recreativas e afins, na ausência dos pais por estarem a trabalhar. Antes das crianças entrarem então na escola primária estão convidadas a frequentar estes locais, onde são educadas por profissionais das respectivas competências e portanto estarão inseridos num sistema funcional a par de outras crianças, podendo brincar, crescer de forma animada ainda que sem a presença dos pais em algumas horas do dia, desenvolver capacidades de concentração em jogos educativos, leitura, desenho, etc. Iniciam um misto de desenvolvimento intelectual, físico e emocional com pessoas e crianças que substituem os seus pais, mas que igualmente lhes fazem companhia e incentivo construtivos. O essencial será o bem-estar de uma criança.

Eu nunca frequentei este género de espaços educativos para crianças de idade inferior a seis anos, (ou equiparável idade mínima para entrada numa escola primária), logo não posso partilhar aqui qualquer tipo de experiência deste género. Nesta fase da infância, eu acompanhava muito a minha mãe para o trabalho dela, por ser possível devido à natureza do mesmo, ou então estava por casa com os meus avós. Poupámos algum dinheiro por não ter frequentado um infantário. E pude igualmente desenvolver as minhas primitivas capacidades intelectuais para me socorrerem na escola primária, na altura certa. Em casa, fui igualmente ouvindo conselhos dos meus avós, com posturas do que era considerado certo e errado em fazer ou dizer às pessoas ou quando fosse para a escola… Fui interagindo com pessoas fora da família, assistindo a coisas novas, a discursos estranhos para mim e demais situações. Os meus pais educaram-me de forma agradável, estando do meu lado, mas não exagerando na tolerância. Não me deram uma educação rígida ou absoluta, pois agitaram-me pela virtude das acções que sempre deveria tomar, pela humildade, pela educação e respeito às pessoas mais velhas e à postura a adoptar face à escola e envolvimento com outras crianças, que as acções seriam sempre mais importantes do que aparências. Nunca me fora negada a liberdade de imaginação, criatividade e/ou brincadeira. Eu tive tempo e espaço para adquirir a minha forma de estar, pois nunca desenvolvi um comportamento demasiado inaceitável, quer em minha casa ou fora dela. Cometi alguns erros, asneiras e afins, mas tudo dentro da normalidade e os correctivos e a aplicação de modos de educação familiar sempre funcionaram para o meu bem e evolução, enquanto criança.

No trabalho da minha mãe, assisti a procedimentos novos para mim, que de alguma forma muito leve o meu cérebro ia decorando… Relacionei-me com pessoas desconhecidas e diferentes do seio familiar na altura, facto que contribuiu para que eu perdesse alguma vergonha que tivesse a mais; não deixei de me juntar a outras crianças, sempre que possível, e pude sentir-me confortável entre sentido de ignorância e birra. Em casa, com os meus pais, tomei conhecimento de desenho, de observação a livros, a letras, a palavras, a figuras, assim como educação por intermédio de audiovisual. Com os meus pais, com a minha irmã e com os meus avós.

Antes de ingressar na escola primária, eu era a criança pequena e ingénua e algo tímida que naturalmente era, mas sentia-me preocupado e receoso com aquela aventura, desejando estar mais algum tempo perto da saia da mãe. Preocupava-me que fosse ser um fracasso na escola, que de alguma forma não conseguisse dar asas à aprendizagem correcta, ao comportamento e à inteligência que me estimularam a aplicar ml:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" />em tudo. Eu preocupava-me se seria uma criança que nunca iria conseguir ler ou escrever, a criança falhada, apesar de estar inserido no sistema de educação escolar normalíssimo, como outras crianças. Pensava não ser capaz de fazer as letras ou os desenhos que me ordenassem e que por isso fosse um caso de insucesso, de gozo e desrespeito. A criança que eu era sentia-se negativista e pessimista, mas também sentia e sabia que não havia nada mais a fazer para além de ir para a escola como os demais; que tinha que triunfar, que tinha que ser educado… Que tinha que fazer e ser.

Na escola primária, tive um óptimo aproveitamento. Li, escrevi, desenhei, aprendi muito bem. Contra as minhas dúvidas, superei degraus. Um poster que existia na parede da sala de aula continha todos os nomes das crianças da minha turma, com bolinhas para pintarmos com uma determinada cor, consoante os resultados dos vários testes ou das várias fichas de avaliação obtidos. O vermelho significava uma nota fraca, o amarelo uma nota suficiente e o verde uma nota boa. As bolinhas correspondentes ao meu nome, basicamente, ao longo dos quatros anos escolares da primária, tiveram o verde como sua cor preferida, como cor maioritariamente usada.

Eu relacionei-me de modo aceitável com todos os meus colegas de turma, na escola primária. A minha relação com as professoras foi também satisfatória e querida. Eu gostara dos meus colegas e das minhas professoras e elas e eles de mim.

O sistema educativo daqueles anos da minha infância incorreu em mim com positivismo e fez de mim uma criança confiante, contente e aplicada. Acredito que para muitos indivíduos seja igualmente uma fase importante e tranquilizadora de guardar no coração.

Tive a minha fase na escola primária de forma natural, com sucesso e à qual tenho que prestar respeito, por ter sido um local muito agradável de crescimento e brincadeira e o qual recordo com prazer, entre fichas de avaliação com bons resultados e levezas daqueles tempos e idades.

Um marco inicial nas teias da Educação, inicial e querido. Um sorriso…

Com a escola primária realizada sem qualquer dificuldade, seguiu-se o ensino educativo de 2º e 3º ciclos. Foi uma experiência diferente, porque sabia que ia para uma escola que acolhia anos escolares diferentes em si mesma, alunos de variadas faixas etárias, portanto, de diferentes temperamentos e, por fim, local com determinados processos bastante diferentes da escola primária.

Pude juntar-me a uma turma com muitos alunos que vieram da minha escola primária, não todos pois foram distribuídos por outras turmas, mas o factor de integração simples e fácil estava lá.

No 5º ano as matérias e os sistemas educativos foram satisfatórios e de fácil compreensão, porém sentia-se que existiam alunos na turma que possuíam uma capacidade de aprendizagem mais lenta face à minha e à de outros alunos. Os conteúdos eram muito repetidos de aula para aula, para que alguns dos alunos com mais dificuldades pudessem assimilar. No entanto, tínhamos que ser realistas e directos: havia alunos com maiores capacidades que estavam inseridos numa turma com alunos de menores capacidades, o que minava o sentido de competitividade, ensino exponencial e bitola exigente.

No 6º ano eu e outro aluno acabámos escolhidos para sermos transferidos para uma turma com alunos de maiores capacidades e com uma média de notas mais alta. Não notei, não notámos, dificuldades de integração… com certeza que a amizade e união com o outro aluno que sempre estudou comigo eram maiores do que com os outros alunos, mas tal era natural e jogava a nosso favor. Criámos dinamismo na nova turma, inserimo-nos em maior competitividade escolar e bom sentido de ajuda entre alunos. Tal como no ano anterior, as minhas notas foram altas e de qualidade, visto que para tal contaram a minha boa capacidade de aprendizagem, concentração, gosto pelos conteúdos escolares, educativos, e pela personalidade dos vários professores: pormenor último que considerara essencial, pois um professor que não fosse capaz de estimular os alunos, não agradaria por certo a todos e por conseguinte os resultados desceriam.

A minha experiência pelas ditas provas de aferição foi normal. Quando me contaram sobre aquilo que era, pensei que não precisava mesmo de preocupar-me, visto que não era parte da minha nota ou avaliação individual. Realizei as provas de aferição com tranquilidade e recordo-me de que até procurei fazer brincadeira com as minhas respostas. Tornar a prova num aborto, num gozo, em vandalismo educativo. Todavia, não o fiz, porque ocorreu-me que se podia aliar os conhecimentos que eu tinha com os conhecimentos e o estatuto que a minha escola permitia e continha, eu esforçar-me-ia para concluir aquilo satisfatoriamente e com bom senso.

No 7º ano as coisas foram praticamente iguais, com um ou outro ponto diferente em termos de resultados, de conteúdos educativos, posturas e variantes. À parte coisas menos felizes no que toca à relação com outros alunos mais velhos e de comportamentos mais agrestes, o 7º. Ano decorreu de forma aprazível e muito positiva. Tenho a evidenciar uma coisa: o meu professor de Português daquele ano tinha uma capacidade educativa tamanha. Foi alguém importante para o desenvolvimento da minha capacidade de escrita e paixão por histórias, pois influenciou-me com a sua sensibilidade, o seu sentido de responsabilidade, a luta pessoal que travava por adversidades e de excitação por talentos. Esse professor lia muitos dos meus textos, inspirados em histórias e livros de terror que naquela altura eu consumia, e criticava-os, dava-me conselhos, convencia-me a tomar outros caminhos para chegar ao mesmo conjunto de palavras, etc. Mostrara-me sempre gosto por ler o que eu escrevia e por eu demonstrar tanto gosto pelas aulas dele e pela escrita, de alguma forma atribui-me valores mais altos nas minhas avaliações sazonais. Foi uma pessoa importante no meu caminho educativo e artístico.

Na escola de 2º e 3º ciclos que frequentei, existiam sistemas educativos fundamentais para estarem a par de um crescimento intelectual mais sustentável dos alunos, com certeza extra, mas fundamentais. Falo acerca de sistemas lúdicos, culturais e afins, que passavam por uma sala que se chamava “sala dos clubes”, a qual continha actividades de leitura, jornalismo, Inglês, xadrez, etc. Para além de tudo isto, importante para um maior bem-estar dos alunos na escola, existia um grupo de teatro e a (naturalíssima) biblioteca, na qual passei muito tempo a pesquisar, por vezes a estudar e muito tempo a ler, a tomar prazer pela leitura. Dentro da dimensão da Educação que me atingiu na altura, todas estas componentes extra foram para mim acolhidas com entusiasmo, entre escape da tensão das aulas, da competitividade e apreço por algo que em casa não tinha…

Metade do 8º e todo o 9º ano foram os melhores anos, tempos, que passei com aquelas pessoas (colegas, professores, restante pessoal) naquela escola. Na turma onde estava no 8º ano, havia pessoas que tal como eu gostavam das coisas em ordem. Tínhamos uma professora que não admitia muito barulho na sala de aula ou brincadeiras (inocentes). Tal comportamento rígido por parte dela causava em nós um sentimento de revolta e sabor muito amargo. Prontamente, reunimos os elementos da turma para decidirmos alguma coisa a fazer para que a situação melhorasse nas aulas da tal professora, para que o ambiente ficasse mais leve, menos tenso. Decidimos entrar para a aula dela para termos uma conversa que expusesse os nossos sentimentos face à postura que tinha para connosco. Fiquei encarregado de iniciar a conversa. Chamei a atenção dela, dizendo que todos queríamos falar com ela sobre a forma como nos dávamos durante as aulas, pois queríamos que alguma coisa mudasse e para melhor, nas nossas relações. Contornando as nossas expectativas negativas, a professora reagiu muito bem, respeitando a nossa posição e afirmando que íamos em conjunto chegar a bom porto. Acordámos uma cooperação a tempo inteiro, em que nos íamos comportar de melhor modo, reforçando a atenção e o interesse nas aulas e a professora admitiria uma ou outra brincadeira, levando as coisas com mais tolerância. A partir daquela conversa, naquele dia, tudo funcionou agradavelmente.

No 9º ano tivemos uma professora que para nos dar aulas naquela escola, se deslocava dezenas de quilómetros. Assemelhava-se à relação que tivemos com a outra professora no ano anterior. Admitia pouca brincadeira, pouca descontracção, apelidando-nos de muito infantis e sem inteligência. Ambicionava colocar sobre os nossos ombros um fortíssimo sentido de responsabilidade, em que nos culpava de gozar com a escola e com o dinheiro dos nossos pais. As aulas eram normalmente tensas e com episódios de discussão. Uma das vezes, ela parou a aula a faltarem quarenta minutos para o final. Apelidou-nos da forma que melhor entendia e mandou-nos calar, olhar para o tecto e nem nós nem ela iríamos interagir mais naquela aula. Foi um ambiente surpreendente, esquisito, muito tenso, muito incómodo, injusto…

Uma das outras vezes, eu saturei de ela continuar com as mesmas posturas face a nós, independentemente do aluno em questão, padecia tudo de igual modo, e levantei-me e disse que estava a esgotar a paciência de vê-la tratar-nos de igual modo, apelidando uns por outros de igual título, e de manter as aulas uma completa repetição incómoda. Afirmei que nem todos ali éramos feitos do mesmo material e que não considerava justo o tratamento. Aconselhei-a a calar-se de uma vez, se pretendia continuar com o mesmo circo, (pois a turma continha realmente alguns palhacinhos) e a sentar-se, tal como tinha feito uns dias atrás espontaneamente. Recordo que corei, recordo que o silêncio era abismal e que a professora sentiu-se mais estupefacta do que ofendida, por ter ouvido aquilo por parte de um bom aluno. Ela compreendeu o que eu disse, apesar de achar que exagerei, e por tal não marcou falta à minha pessoa por indisciplina. Houve tensão, cortou-se tensão… as coisas melhorariam, um bocado, no geral, e posso contar que terminámos aquele ano comigo a oferecer-lhe um álbum de Cradle of Filth! O som e a voz não eram em si factores de deleite para a professora, mas a essência musical, os efeitos sonoros, a densidade vampírica ou gótica, despertaram-lhe o gosto pelo projecto, pelo estilo, pela banda.

Ainda no 9º ano percebi que afinal conta mais a capacidade de aprendizagem de um aluno do que a personalidade de um professor. Ambas são essenciais e entrelaçam-se, mas um aluno consegue ir longe mesmo se não gostar de um professor, pois poderá ter ambição e inteligência. E o que fez com que alterasse esta minha perspectiva, foi o facto de ter conhecido bons professores que tinham excelentes dons de ensino, mas os quais foram ignorados por alguns alunos com dificuldade de concentração e/ou de interesse. Vi alguma falta de aproveitamento educativo e escolar, mas enfim…

Quero terminar esta etapa da minha experiência como aluno, entre o 5º e 9º anos, demonstrando que as minhas melhores notas foram no 5º e 6º anos: notas máximas à quase totalidade de disciplinas. Nos restantes anos, a fasquia subiu, o factor de amizades e crescimento emperrou alguma da minha capacidade de concentração e por isso tudo as minhas notas foram tendo médias boas, à mesma, mas algo inferiores àquelas que outrora alcancei.

Quero também evidenciar que durante estes anos, a disciplina de Educação Física foi uma mais-valia dentro do sistema educativo da escola. Sem ela, o desenvolvimento físico seria outro; sem ela, algum tipo de descontracção saudável ante carga de estudos não se verificaria tanto; sem ela, não existiria tanto prazer em nos mantermos cuidados, unidos e activos.

No final do 9º ano, tivemos, assim como todas as turmas de 9º ano, uma viagem de finalistas a Espanha. Um presente de reconhecimento aos nossos empenhos por parte da nossa escola. Para nós foi um deleite, uma prova de que vencemos naquele meio educativo, que foi algo exigente e que nos preparou agradavelmente bem para o próximo passo; foi o fechar de um ciclo…

Prosseguindo, nesta seguinte etapa dentro da minha experiência educativa escolar, disserto sobre a fase do Secundário (do 10º ao 12º anos). Numa escola profissional, num curso portanto de carácter profissional, passo a redundância. Estes tempos foram os melhores, num conjunto com muitas variáveis variáveis, passo a redundância, enquanto inserido no mundo dos livros escolares. Uma fase onde a idade nos remete para voos mais altos, interesses mais vinculados, prazeres mais salientes e sentimentos mais responsáveis.

Há agora um aspecto curioso, que ultimamente saltou às minhas memórias, relacionado com o tema, com o meu artigo; pertinente…

Desde logo, na escola secundária que frequentei, notaram algumas capacidades interessantes em mim, o que despertou o convite a eu participar num jornal regional – Opinião Pública – com um texto que contivesse as minhas expectativas e também noções dentro da instituição educativa que estava a frequentar. O porquê de ter ingressado naquela escola em específico, o porquê de ter escolhido o ensino profissional e quais as motivações e os meus horizontes.

Mantenho ainda hoje a página do jornal onde saiu o meu texto e pensei em partilhar aqui o mesmo, para lerem no caso de aplicar-vos curiosidade e de imediato perceber naturalmente aquilo (um mínimo) que se passava dentro da minha mente e do meu coração, na altura. Após determinadas partes deste meu artigo, tentarei de forma também natural passar-vos os sentimentos que se alteraram no final do meu curso. Ou seja, primeiro recupero aqui para vós, leitores, um artigo que escrevi no meu 10º ano e depois conto-vos o que é que eu senti e pensei no final do 12º ano:

“Eu, aluno da EPBJC (Escola Profissional de Bento Jesus Caraça), localizada em Delães, nestas linhas, irei dar-vos a conhecer um pouco da minha história neste estabelecimento de ensino.

Sempre me interessei e “agarrei” firmemente esta magnífica palavra: “Informática”. No fim do meu 9º. Ano, deparei-me com algumas dúvidas e “obstáculos” na escolha do meu destino. Pretendia frequentar o curso de Engenharia de Informática, mas não me sentia feliz com esse desejo. Eu não me sentia bem, ao pensar que iria frequentar uma escola por mais alguns anos… foi então que tive o conhecimento da EPBJC, por parte de um aluno que já cá andava, decidi firmemente: - “vou para aquela escola, pois quero seguir e realizar o meu sonho!!! E depois ingresso logo no mundo do trabalho.”

E assim foi.

Faço parte da turma 10º. Ano T. I. G. (Técnico de Informática de Gestão) e, quando cá cheguei, fiquei surpreendido com as disciplinas e com os conhecimentos que me estão a transmitir. Sinto-me muito bem em ter feito esta escolha, pois além de frequentar o que eu sempre quis, a relação que tenho com os meus colegas e professores é do melhor que pode haver. É uma escola pequena, com poucos alunos, mas todos que cá estudam sabem o que estão a fazer.

Esta é uma das várias vantagens de uma escola profissional. Todos trabalham e dão o máximo, pois é o futuro de cada um que está em jogo.

Quanto ao meu futuro, espero que me saia bem ao longo destes três anos e que consiga um bom emprego no ramo da Informática principalmente a nível da programação. (…) ”

No geral, eu passei três anos agradáveis, entre exames exigentes e específicos no domínio da Informática, da Contabilidade e ainda num misto deles próprios. Os meus resultados eram altos no 10º ano, baixaram um pouquinho no 11º ano e mediaram-se no 12º ano. Notei ao longo dos tempos, que os professores eram indivíduos mais soltos do que outros que tivera até então, contendo um óptimo talento para o ensino, próximos das preocupações dos alunos e com quem podíamos contar para o bom e para o mau. Relacionei-me no geral bem com todos eles e disso retirei proveito. No que toca ao relacionamento com os meus colegas de turma, só posso evidenciar coisas proveitosas, momentos únicos, sensações de alegria e diversão, amizades que deixam marcas…

Afirmo sem problemas que as instalações da escola não eram as mais adequadas, aliás, o equipamento informático não era o mais actual, as salas não tinham as melhores condições e não possuía refeitório. Em termos de locais para os alunos amontoarem-se em lazer e conversa, exceptuando uns bancos, um palco, uma mesa de pingue-pongue e um jardim mal tratado, tínhamos uma sala por debaixo do palco.

No final do curso, as portas que podia abrir não eram tantas quanto as que eu pensara que abriria, no início do curso. A apresentação da prova final do curso com um amigo e colega de turma, apresentação de um programa informático que podia muito bem ter feito sucesso na empresa para a qual o desenvolvemos, correu muito mal, as expectativas eram altas, as nossas e as dos avaliadores, um dos professores presentes e que melhor conhecia o nosso trabalho, ao invés de apoiar o que estávamos a apresentar, a explicar que uma falha que ocorreu não era culpa nossa, ao invés de colocar claro que era o programa mais denso e ambicioso, ao invés de explicar aos avaliadores que tinha antes daquele dia acompanhado a 100% o programa em termos favoráveis, não apoiou o que apresentámos, manchou a reputação do programa ao dizer que existiam muitas mais falhas e muitos mais erros, colocou em causa o nosso empenho e claro talento e finalmente solicitou aos avaliadores uma nota aquém das expectativas de todos! Uma total humilhação, um surrealismo, uma mentira que nos prejudicou e um comportamento estranhíssimo, impróprio e alterado por parte de um professor que conhecia-nos muito bem e desde sempre acompanhou os nossos conhecimentos. Este acontecimento fez-me perceber que existem coisas que minam por completo os horizontes de um aluno e aspirante a trabalhador. Alterou a perspectiva das coisas, de que até em situações favoráveis se encontram opostos, traições, detalhes que padronizam, limites que não nos permitem brilhar.

Ao longo do curso, aprendi que Informática não era tão bonito e excitante como eu acreditava ser. Aprendi que o sistema educativo fornece ensinamentos muito bons, especializados e ricos, mas também palha, contradições e teoria que sinceramente estorva até as pestanas. O que foi ensinado, em prática seria aplicado uma amostra pequena, o que foi ensinado, em prática colocaria brechas e figuras parvas à vista. O sistema educativo possui processos que minam a ambição das pessoas, ao pretender normalizar, padronizar, personalidades, resultados e trilhos. Possui ainda processos e pessoas que minam o entusiasmo pela realidade do emprego, pelo júbilo do fim de um ciclo e pela vontade de apostar na sabedoria amealhada, visto que mais rápido nos deita por terra do que acaricia. Devo dizer que aprendi imenso dentro do curso profissional que tirei, que passei por situações incrivelmente enriquecedoras e desafios construtivos, mas também caminhei por corredores sem portas de saída, sem auxílios de estágio, sem oportunidades de exercício prático. O que estudei surpreendeu-me, fez-me sorrir, mas não conquistei nada sem recurso a outros trunfos. Se há coisa que aprendi, é que a Educação é um direito, é um valor essencial e um eufemismo; com ou sem ela podemos ir a um mesmo ponto ou a um mesmo ponto nenhum. Educação é lei e é maquilhagem.

Antes mesmo de terminar a dissertação sobre a experiência que tive no secundário, experiência que, apesar de não ter capultado a minha pessoa para lagoas de importância ou emprego simples, terá que ter sido positiva. Quero contar que pude glorificar sentidos meus em áreas diversas e não tão ligadas ao estudo e resultado de exames, mas ainda assim ligadas às teias e maquinações da Educação. Eu participei numa peça de teatro, representando uma das personagens principais, de uma cena de uma obra portuguesa de conhecimento geral, fui um dos apresentadores num desfile de Halloween, convidaram-me para integrar uma equipa responsável pela rádio da escola, participei num desfile com roupas originais constituídas basicamente por materiais reciclados e ainda levei a escola vencer num jogo de cidadania pelo I. P. J. (Instituto Português da Juventude), uma experiência algo política, algo educacional, que mais tarde proporcionou aos elementos da minha escola uma viagem a Estrasburgo, numa participação dinâmica no Parlamento Europeu sobre temas e preocupações dos jovens europeus.

Depois do 12º ano, com diploma nas mãos, terminei a viagem pela Educação escolar. Tinha assim sido combinado e a paciência esgotou-se-me igualmente, porém talvez não combinado. E hoje em dia a escola mudou de local, desta feita sita na localidade de Pedome.

Já ia esquecer-me…! Num determinado dia de Novembro do meu 10º ano, contando para a história o facto de eu ter dado a conhecer-me para determinadas pessoas e professores, através de sortidos motivos, como Satanista, a minha professora de Português no curso de Informática de Gestão desafiou-me a que escrevesse um artigo para o jornal da escola acerca de Satanismo, visto que ela demarcava interesse por questões do género para enriquecer os seus conhecimentos. No artigo que propôs à minha pessoa, quis adicionar a provocação de que se os Satanistas celebrariam o Natal!? Lógica e instantaneamente pude responder-lhe de forma clara de que não celebrariam, no entanto, aceitei o desafio por ser para mim um prazer, uma actividade burlesca. Corri para contactar a A. P. S., em prol de fundamentar e dar mais substância às opiniões no tal artigo a realizar para o jornal da minha escola, na altura.

O artigo foi realizado com ajuda de administradores da A. P. S. e basicamente continha as definições gerais do Satanismo para logo depois conter a resposta à pergunta se os Satanistas celebrariam o Natal. A resposta era um equilíbrio em comprimento e qualidade. Continha substância de interesse, com a negação de que o Natal seria celebrado por Satanistas e com uma agradável dissertação e avaliação da tal data em termos sociais, religiosos e económicos. O artigo agradou-me e estimulou-me imenso e tratou-se de um objecto de alguma natureza satânica com intervenção minha numa instalação educativa, para figurar num veículo educativo informativo da mesma.

Posso contar-vos de que este artigo nunca viu a luz do dia no tal jornal escolar, mas sinceramente penso que nem o jornal foi feito nessa temporada; deixou de existir.

O importante, de resto, foi que eu fiquei satisfeito com o artigo, com a pesquisa, e a minha professora mais consciente e respeitadora das noções e mais interessada pelo tema.

Este artigo termina com a asserção pela minha parte de que perspectivas se alteraram ao longo dos vários episódios, desde a primária, passando pelo ciclo e até ao secundário. É natural, pois a mente molda-se, desenvolve-se, evolui-se, de forma equiparável às perspectivas da própria mente. A Educação não deixara de ser vista como um elo fortíssimo e poderoso ao longo de uma vida humana, mas apenas via-a como uma casta de virtudes para vê-la como um perigoso campo de batalha, um recreio que pode ser ilusório e um queijo com buracos. Possui falhas, falhas que devem ser preenchidas de valias através da eficácia, ordem e exigência que merecem actuar sempre, do perfil de cada indivíduo. Apenas assim a Educação fará sentido para ser um caminho agradável de percorrer, com corredores curiosos e saídas dignas de todo um caminhar agradável. Com certeza que a estudar, eu reagia de forma descontraída, sem registo mental de responsabilidade vinculada, intervinha nas aulas pateticamente, por vezes, mostrava desinteresse. Formatos que aprendi que se colam ao nosso corpo na Educação, mas que descolaram assim que iniciei provas no mercado de trabalho. Aí compreende-se que os palcos são diferentes, as atitudes entre si sem balanço e que acresce a preocupação nos movimentos efectuados, que as aulas e a Educação escolar não acresceram. São meios, livros, revistas, tertúlias diferentes, pois… quanto melhor o sistema funcionar, mais ondas dará a ver. Quanto melhor a Educação funcionar, mais oceanos conseguir-se-á alcançar para/com esses olhos.

A Educação é sem dúvida essencial na vida de qualquer indivíduo. Terá sim que ser diversa, exigente, adaptada às necessidades de cada um, aos tempos e a qualquer tipo de factor inerente, sempre!

E os direitos e as incertezas dos alunos sempre em cima da mesa (escolher precocemente e em náusea um rumo na Educação não é o mesmo que ir a um Carnaval vestido com um qualquer disfarce de uma qualquer profissão engraçada), entre igual exigência de qualidade, apoio e glória, sem usuras burocráticas ou associativas.

O direito nisto tem que funcionar e têm que o fazer funcionar e, num ciclo imensamente são, em que o dever seja tomado com rédea curta!

Mosath

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